(Alemanha) A Alemanha, os aviões e o céu de Martin

Um senhor apaixonado pela esposa, mas que nunca para em casa. O paradoxo da vida de Martin é fruto de um outro amor que lhe divide o peito, aviões. Este amigo que fiz em uma das minhas viagens à Alemanha, é dono das histórias mais incríveis que já ouvi de um viajante. 

Hoje, ele é guia turístico, mas o que sempre o motivou na vida foi o seu entusiasmado pelos aviões. Assim, eu, apaixonada por carros, admirava os veículos expostos no museu da sede da Volkswagen em Wolfsburg (Alemanha) com a cabeça nas nuvens de Martin. Para cada carro que eu admirava, vinha uma história sobre aviões do nosso guia. Para se ter ideia, ele chegou a viajar de Concorde – e de graça. “Ah, era um belo avião”, suspirou, ao lamentar a aposentadoria do pássaro de ferro que quebrava a barreira do som.

É por isso que gosto de contar sobre o céu de Martin. Como toda história tem um começo (e eu adoro esse clichê), a dele teve início quando era apenas um jovem aprendiz de pilotagem. Em um dos exercícios, Martin sofreu um acidente aéreo. Foi arremessado para fora do avião, que havia feito uma aterrissagem de emergência. Apesar de ter tido a graça de ser um dos dois sobreviventes, o meu amigo teve a visão prejudicada, o que o impediu de seguir a carreira de piloto. 

Não teve outro jeito, a única saída era tornar-se comissário. Aliás, foi quando conheceu sua futura esposa, uma aeromoça cheia de sonhos. E, assim, Martin chefiou por anos equipes de bordo de empresas aéreas como Varig e Lufthansa. 

Muito comunicativo e fluente em alemão – sua ascendência -, ele conseguia romper protocolos e ter conversas profundas com figuras históricas, como o Papa João Paulo II. Martin conta que foi graças a sua habilidade com as palavras e sua educação, que conseguiu chamar a atenção do pontífice e a permissão para ter uma conversa particular. “Foi uma experiência muito interessante”, descreve a conversa, respeitando o sigilo cristão.

Para continuar voando após a aposentadoria, esse simpático senhor decidiu virar guia turístico. Sorte de quem pôde conhecer a Alemanha, os aviões e o céu de Martin. 

*Esta crônica foi publicada originalmente em 2012

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