A “europeização” da Rússia teve como marco a construção de São Petersburgo, cidade fincada na região onde o Rio Neva deságua, no Golfo da Finlândia, e inspirada em Londres e Amsterdã. Há tanta história melancólica e, ao mesmo tempo, tanta beleza em suas construções que, sem dúvida, não tinha cenário tão perfeito para as “Noites Brancas”, de Fiódor Dostoiévski.
Caminhar pela cidade é uma aula de contrastes, entre o melhor e o pior do ser humano. O Hermitage ou Palácio de Inverno, por exemplo, é um deslumbrante museu e uma joia arquitetônica e que, no entanto, testemunhou o “Domingo Sangrento”, em 1905, quando as tropas do czar Nicolau II (o último monarca russo) abriram fogo contra uma multidão que protestava pacificamente em frente a esse, que era a residência real. Aliás, vale a visita virtual ao Hermitage: Virtual Visit (hermitagemuseum.org)
Já a impressionante Catedral do Sangue Derramado, construída em 1883, é decorada por inesquecíveis cúpulas e mosaicos, estes criados sobre os desenhos dos pintores russos Vasnetsov, Nesterov, Riabushkin e Kharlamov. Eles vão do chão às abóbodas. E por que o nome? Então, o nome da catedral é esse por ter sido construída no exato local onde o czar Alexandre II foi assassinado.
Na Segunda Guerra Mundial, durante o cerco nazista que durou 900 dias que quase dizimou a população de pestes e fome, a Catedral do Sangue Derramado chegou a ser bombardeada. O restauro só começou em 1970 e foi concluído em 1997.
Exemplos de sofrimento e destruição não faltam nos pontos turísticos da cidade. Porém, assim como os livros de Dostoiévski e as óperas no Teatro Mariinsky, a cidade se reergue por sua poesia fascinante. Da mesma maneira como se reergueu Vladimir, o gentil garçom que gentilmente nos atendeu no restaurante que inventou o verdadeiro estrogonofe, ou melhor, o Stroganoff Restaurant (escreve-se assim mesmo).
Vladimir declarou-se um verdadeiro apaixonado pelo Brasil, país apresentado a ele por uma brasileira que conheceu em Londres. Apesar de intenso, o romance foi breve. Mesmo assim, ele carrega as boas lembranças e o samba no pé.
Com toda sua simpatia, sugeriu que experimentássemos a sopa de cogumelo de lá – a melhor sopa que já tomei na vida diga-se de passagem. Ah, sobre o estrogonofe? É delicioso, mas bem diferente do que é feito aqui no Brasil. Leva bastante cogumelo e creme azedo, mas não deixa de ser incrível. Aliás, nessa cidade onde a fome já esteve tão presente, colher cogumelos é uma divertida brincadeira para adultos e crianças. Como disse, a poesia dessa cidade é fascinante.
*Texto publicado originalmente em 2012








