(Italia) Arrivederci, Lucca

Refúgios mentais às vezes são os melhores lugares para animar o astral. Quando fico triste, vou a Lucca, a cidade italiana de onde veio a minha família Dal Poggetto. Às vezes fico lá por minutos, às vezes, por horas. Conheci este mundo particular da Toscana em 2011, viajando com meus pais, que queriam muito ver o lugar que tanto escutavam dos parentes, quando eram crianças (meus pais são primos, então esta parte da família é a mesma).

Como eu também sempre escutei as histórias das histórias, para mim, foi muito mais do que uma experiência de viagem. Aquele sentimento de buscar sua origem é algo curioso e muito emocionante. Não vou negar que deixei escorrer algumas lágrimas pelas calçadas ao ver o sorriso no rosto do meu pai e a rua onde, supostamente, nossa família viveu por tanto tempo — um ou outro Dal Poggetto ainda está por lá. Não os procuramos pela falta de tempo, mas também pelo receio de quebrar a magia daquelas histórias repetidas à mesa. Certas lembranças precisam ser preservadas com carinho, intactas.     

Lucca se divide em duas — a velha e a nova. Obviamente, a “veccia” é a mais interessante. Embora, historicamente, seja uma comunidade pacífica, ela é toda fortificada, envolta por um muro contínuo que, hoje, divide a cidade antiga da nova. Patrimônio histórico da humanidade, hoje, essa fortificação possibilita que moradores e visitantes pratiquem corrida, passeiem com cachorros e brinquem com as crianças sobre sua estrutura. A sombra projetada à tarde, é um convite para o descanso nos dias quentes.

A vida em Lucca também se faz pelas estreitas ruas protegidas pela muralha. Logo ao entrar, a tradição medieval das feiras está viva pelas barraquinhas com guloseimas. Paramos para saborear as castanhas portuguesas assadas na hora (há muitas árvores de castanha na cidade) e torrone de pistache. Barraquinhas de livros antigos também se revelam entre as ruelas. Para quem ama literatura, é um deleite folhear as raridades.

Outra característica da arquitetura da parte antiga da cidade é a grande quantidade de “igrejas” para uma cidade tão pequena. Embora algumas ainda estejam “em atividade”, muitas só tem a fachada preservada, pois viraram residências, outras cinema, museu, comércio etc. O “fenômeno” é resultado do enfraquecimento do poder católico e da saída dos jovens em busca “do mundo” – nem que seja na parte nova da cidade.

Com tantas alegorias de uma já distante vida italiana, as notas de Puccini (compositor de ópera também oriundo de Lucca) musicaram meus pensamentos naquele instante. Despedi-me de Lucca, com a promessa de voltar. Lembrei-me do meu pai contar que o seu avô – ou seja, o meu bisavô –, quando olhava para o mar, chorava de saudade da Itália. Talvez, assim como eu, queria voltar para o almoço de domingo, sentar-se no banquinho da Piazza San Michele, caminhar tranquilamente pelas ruas e, entre uma conversa e outra com os amigos e entes queridos, bebericar o tão apreciado limoncello da cidade. Arrivederci, Lucca, arrivederci…

*Texto publicado originalmente em 2012

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