(Brasil) Ary, o bugueiro de Jeriocoacoara

“Lugar legal é aquele que te surpreende. Viajo para ser surpreendida.” Ouvi essa frase de uma simpática amiga-de-uma-amiga-de-uma amiga que conheci assim que cheguei a Jijoca de Jericoacoara (CE). O que fez total sentido para mim que, para estar ali e ouvir a precisa afirmação, tive de pegar um voo de três horas de São Paulo a Fortaleza e mais quatro horas de estrada em um 4×4. Detalhe, ao som da banda Calcinha Preta, a preferida do motorista, segundo ele.

A amiga em busca de fascínio estava certa. Jericoacoara é um dos lugares que mais me surpreenderam. A vila pé na areia, literalmente, reserva um mar de águas quentes e praias e lagoas escondidas em cantos distantes. Só que para chegar a lugares como a Lagoa do Paraíso, Lagoa Azul, Lagoa do Coração, trechos de mangue preservado, Pedra Furada e a dunas lindamente divertidas, você vai precisar de um bugue – e um bugueiro. Contratar um é fácil, mas “o” bugueiro, nem tanto. Felizmente, além de areia, aqueles ventos trouxeram o famoso Ary Paraíba.

Ary se descreve como um homem que nasceu para fazer as mulheres felizes. Apesar do comentário malicioso, ele realmente cumpre a meta de vida pilotando aquele bugue. Pode não conseguir nem um beijinho das turistas, mas arranca muitas risadas. A começar pelo papo furado – ele não consegue ficar um minuto quieto. Cumprimenta quem passa, conta as peripécias que os gringos fazem, fala sobre a filha e até dá uma de corretor, tentando vender os terrenos disponíveis ao redor da Lagoa Azul.

Os bugues não podem correr em Jeri, então, quando ele pergunta se quer emoção, ele liga o som. E nada de Calcinha Preta, viu, é um excelente rap francês – em som bem alto por sinal. Ary ri, diz que não entende nada do que falam, mas que foi um presente de um amigo turista e que adora o som. Realmente, é muito bom, embala outro ritmo às areias de Jeri.

Embora tenha até a quarta série, o querido bugueiro é um daqueles caras que viraram referência na comunidade. Aos 40 anos, pode-se dizer que ele é um sábio, formado por uma vida não só de farras com mulheres. “Um dia fui para São Paulo. Ué, todo mundo falava que lá era o paraíso, que se ganhava bem. Eu tinha que conhecer, pelo menos para ter a minha opinião. Mas quando cheguei… O quê?! Paraíso é Jericoacoara, é aqui que eu sou feliz de verdade.”

É, ele tem razão. Um pedacinho de mim ficou lá e nunca mais voltou. Está nas areias, no mar, no jeitinho de aldeia, no vento e por que não no nosso amigo Ary? Afinal, em comum, temos o amor por aquele lugar e pelo bolo de macaxeira. Toda vez que como um bolo desse, sinto o vento da Duna do Pôr do Sol batendo no rosto e, ao fundo, ouço as risadas engraçadas do bugueiro bom de coração.

De lembrança guardei uma foto:
– Ary, pose para foto.
– Eita, essa é pro Facebook. Pra queimar o seu filme!
– Não Ary, esta é para o meu blog.

*Texto publicado originalmente em 2011

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