As proporções do aeroporto de Xangai mostram a dimensão do que é a China. Do pouso ao finger do terminal, sem brincadeira, são uns 15 minutos de pneu de avião rodando na pista. Um tempo que não passa, tanto pela ansiedade de visitar o país pela primeira vez, quanto pela vontade de tomar um bom banho após 27 horas entre voos e conexão (fiz São Paulo – Qatar – Xangai).
Do aeroporto até o hotel, prometia-se mais 30 minutos, o que virou uma hora. Pela janela da van, observava com atenção cada detalhe amassado na lataria dos carros e as marcas “alternativas” inspiradas em luxuosas companhias ocidentais. O trânsito maluco é orquestrado por buzinadas e mudanças de direção sem aviso prévio (o desleixo no uso das setas parece não ser digno de multa no país).
O curioso é que todos passam ilesos, inclusive pedestres e ciclistas que furam a sinalização vermelha dos semáforos sem temer a fúria dos motoristas. Ah, e por falar em pedestres, suas escarradas despretensiosas no meio da rua dão o arremate a esse cenário de caos sob a ótica de quem não vive ali.
O primeiro contato com o céu de Xangai também causa certa estranheza. É de um azul desbotado. O ar cinza é seco e carregado de poluição. Quando superei o jetleg e voltei a dormir, lembrava-me disse toda vez que enchia o pulmão na espreguiçada do despertar. Sempre pensava que só esse alongamento de narinas equivalia a inalar uma tossida do escapamento de um sedã da Geely.
Fora as distâncias, as buzinadas, a poluição do ar e o banheiro (entrarei nesse detalhe em outra oportunidade), Xangai é de encantar os olhos, especialmente à noite, quando as luzes aparecem e a linda cidade mostra que está longe de ser inocente. Os letreiros no alto dos mais de 50 andares dos prédios de bancos e hotéis mostram sua força econômica. Túneis coloridos e enormes viadutos em largas avenidas engolem as pessoas, tão pequeninas.
No calçadão boêmio, claramente feito para turistas ocidentais, tem bar que toca jazz de New Orleans. O cheiro de charuto invade o frio ar da noite de primavera, enquanto chinesas de meia idade distribuem telefones de jovens moças, com a promessa de habilidosas “massagens”.
O gigante dragão vermelho assusta. E não há mídias sociais tradicionais disponíveis para distrair a insônia do fuso ou registrar a selfie. Ditadura, meus caros, você só pode acessar o que o governo permite. E no caso de jornalistas, como eu, praticamente nada. Até a minha entrada no país precisou ser justificada, com carta oficial e timbrada. No caso, eu estava sob a responsabilidade da empresa chinesa que me convidara a cobrir o Salão do Automóvel Internacional de Xangai, já que, em maio de 2013, ainda era repórter de um grande veículo de comunicação brasileiro.
Apesar de tudo, finquei meus pés na China de coração aberto. E é o conselho que dou a qualquer ocidental que planeja visitar o país. Só assim, conseguirá entender a beleza de seus contrastes e a magia milenar de sua cultura.
*Texto publicado originalmente em 2013
















