(Inglaterra) Guia de como passar menos vergonha em Londres

– A bottle of water, please?
– What?
– Water…
– What?
– I’d like a bottle of water?
– Ah, “wáta”, no “warer”.

“Isso mesmo, inglês mala que me entendeu perfeitamente.” Esta é, naturalmente, a primeira reação de qualquer estrangeiro com inglês americanizado que tenta comprar água em Londres. Eles te entendem, te alopram e você fica com aquela cara de típica de gringo, de tonto. E tudo pode piorar na terra do chá das cinco. Passei por pequenas experiências as quais relato aqui, refém do irônico bom humor londrino, o qual demorei dois anos para digerir e respeitar (no fundinho, eles amam todo mundo). Para facilitar a vida, compilei orientações preciosas de “como ser menos aloprado em Londres”.

Ao comprar água
Bom, como já expliquei, “wáta” e não “warer”. Porém, isso não tem muito jeito, eles nunca vão aceitar sotaques e eternamente aloprarão gente da mesma raiz e quem tenta falar qualquer uma das variações, sejam irlandeses, americanos, escoceses etc.

No double deck
Os ônibus coletivos de dois andares são mesmo o máximo. Só que ao entrar em um deles, leve dinheiro trocado e, por favor, não ache que você está no busão da escola para ficar de joelhos, sobre o assento, conversando com os amigos do banco de trás ou mesmo em pé. No double deck tem que sentar bonitinho. Malandro que desrespeita as regras faz o ônibus parar com direito a trolada de motorista.

Na Abbey Road
Desencane. Você vai parar para fazer a pose dos Beatles e eles vão buzinar, xingar e ameaçar jogar o carro. Sim, é um ponto turístico, mas quem está atrasado para ir ao médico se esquece de que seria muito melhor pegar outra rua. Tire os sapatos, as meias, faça a pose e sorria para a foto.

Ao alugar uma bicicleta
Jamais faça isso à noite. London by Night é muito perigosa para ciclistas. Uma, porque desacostumados com a mão inglesa podem pedalar em direção a um double deck (não vou mencionar nomes). Duas, porque há a possibilidade de delinquentes querer roubar a sua bicicleta e te jogar no rio Tâmisa. Onde te alopram nisso tudo? Quando você pede ajuda para alguém ligar para a polícia e este alguém inglês fala para você ligar do seu celular. Sim, aquele mesmo celular que te roubaram junto com a bicicleta e o relógio.

Ao beber na balada de um hostel
Nunca aceite drinks promocionais que custem uma libra, especialmente uns azuis com gosto de algodão-doce ou aqueles de cor de catuaba. Apesar de parecerem inofensivos, têm efeitos catastróficos. No dia seguinte, você até tenta “keep walking”, mas acaba sendo obrigado a parar no primeiro hospital que encontrar pela frente ou vomitar no meio do espetáculo da troca da guarda e não ver nada. “Disgusting”, eu diria, caso fosse inglesa.

Ao curar a ressaca em um hospital
Fale logo que está de ressaca. Porque quando a médica plantonista perceber que o seu problema não é uma infecção de ouvido, ela não vai te medicar e ainda dará uma lição de moral “para você aprender a beber direito”. Sem dúvida, pode ser a pior aloprada da sua vida sobre sua vida.

Ao comprar bilhetes de teatro
Tudo bem que os pontos de venda de bilhetes de teatro ficam abertos até as 17h. Porém, ofende muito os ingleses se às 16h45 perguntar se ainda há ingressos para peças famosas como O Fantasma da Ópera ou Hamlet. Chegue um dia antes, por gentileza.

Ao tirar foto
Nunca, jamais fale para um português tirar foto de você com seus amigos em frente ao Palácio de Buckingham para evitar a ironia local. É muito melhor pedir a um inglês, mesmo correndo o risco de ser zoado até a próxima encarnação. O português vai se esforçar para fazer o melhor enquadramento. Pedirá um passo para esquerda, outro para a direita. Fará vocês dobrarem levemente os joelhos. Tudo para meter um close na cara de todos e descartar completamente o palácio ao fundo.

Sim tem fish & chips!
Você pode ignorar, ralhar, responder no seu idioma nativo ou simplesmente dar de ombros, mas eu aconselho a não os provocar. A cara da garçonete de que “é óbvio que aqui tem fish & chips” pode estragar o prazer gorduroso de comer esta especialidade britânica. Para se ter ideia, a iguaria é tão mais velha que a rainha, que Charles Dickens faz referência a um pub e ao prato em seu romance “Oliver Twist”, de 1838. Existe até uma associação, fundada em 1903 pelos chamados “friers” (aqueles que fritam o peixe e a batata) para manter a qualidade do prato. A National Federation of Fish Friers (NFFF) tem mais de 8,5 mil associados e traz premiações e cursos para quem quer profissionalismo à mesa.

*Este texto foi publicado originalmente em 2013

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