Lendas de gnomos e fadas ainda são muito fortes culturalmente no Leste Europeu, especialmente na decoração natalina. Quando visitei Budapeste (Hungria) em maio de 2013, uma loja “encantada”, localizada no número 9 da Váci utca, despertou a minha curiosidade, até então distraída por uma fonte ao centro da praça (a explicação está no pé da página). Tratava-se da “Philanthia”, que expunha papais-noéis, gnomos e fadas deslumbrantemente atrás de sua vitrine de vidro veneziano.
Entrar nessa loja parece atravessar um portal para o início do século XX. Entre flores, personagens místicos, badulaques e aromas, a sensação é de estar naquelas florestas encantadas dos clássicos contos de fada europeus — se você foi uma criança que assistiu na TV Cultura à série “Contos de Fada”, sabe do que estou falando.
Ao conversar com a pessoa que nos atendeu na loja, tudo ficou ainda mais mágico. A Philanthia fica em um imóvel com mais de 100 anos de história e seu interior “art nouveau” é o mesmo da virada do século, com pinturas gigantes do pintor húngaro Makár Alajos. Cada cantinho da loja traz alusões às antigas histórias encantadas, que divertem as crianças até hoje e despertam as nossas melhores lembranças da infância.
Segundo a atendente, tudo é criado para que o visitante esqueça do mundo exterior e mergulhe em uma lúdica vivência. Sem contar que na Philanthia é Natal o ano inteiro e aquele clima especial enche os pulmões de paz. “Cuidamos dessa loja com muito amor”, disse.
Lembro-me que fiquei encantada por um “gnomão” de 180 euros. Aliás, muitos desses objetos recebem identificação para colecionadores, o que elevam os preços a uma fábula (desculpe o trocadilho, mas não poderia perder essa oportunidade). Dentro do meu orçamento de viajante nada mágico, tive de me contentar com um enfeite de árvore de Natal, entregue carinhosamente de presente para a minha mãe que, por sinal, tem a árvore da Natal mais globalizada que eu conheço.
Neste finzinho de 2022, recebi a notícia de que a Philanthia vai fechar em 18 de dezembro o seu ciclo neste mundo. Como toda lenda, ela permanecerá no imaginário de quem ouviu falar e nas lembranças daqueles que realmente a conheceu, que é o meu caso ao homenageá-la com estas linhas.
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Voltando ao início desta crônica, explico agora o porquê de a fonte da praça ter me distraído. Além de chamar a atenção pela enorme estátua do deus Mercúrio, reparei que as pessoas têm o hábito de molhar as mãos em suas águas. É sério, todo mundo vai lá molhar a mão. Enquanto observava isso tentando entender se era um refresco pelo calor (se as noites em Budapeste passam de 30°C, imagine como fica a cidade de dia), vi um senhor de cabelos brancos mergulhar a cabeça em suas águas e ir até a vitrine de uma loja acertar o penteado pelo reflexo do vidro. Em Budapeste, é assim mesmo, etiqueta para que se o bom é a liberdade de viver?









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Thanks.