Foram as cinzas e a lama do Vesúvio que protegeram as construções de Pompeia contra os efeitos do tempo. O vulcão entrou em erupção em 79 d.C. e escondeu uma das cidades mais importantes da Roma Antiga por 1.600 anos. Essa “massa” que grudava na pele das pessoas eternizou seus corpos e pertences e, também, preservou o cotidiano de seus 20 mil habitantes.
Sem dúvida, Pompeia é um dos lugares mais impressionantes que já visitei e aconselho a qualquer um visitá-la antes de morrer. Ao adentrar à cidade e ver suas proporções e o quão bem conservada está, fiquei perplexa. Caminhei muito aquele dia sob o sol, sem perder um detalhe da visita e, embora já havia visto em livros as imagens dos corpos petrificados, meus olhos ficaram hipnotizados pelas suas expressões, tão nítidas. Projetamo-nos naquelas vidas e naquelas mortes, nos pequenos instantes que antecederam àquela erupção.
Sim, ao pó retornaremos e por que, aparentemente, quase nada aprendemos sobre a igualdade que a finitude da vida proporciona a todos os seres que habitam este planeta? Refleti sobre isso ao escutar um diálogo, bem ao meu lado, entre duas turistas americanas e seu guia, um italiano que deveria beirar os 70 anos:
— Minha amiga veio aqui na década de 1970 e me disse que existiam umas pinturas eróticas que eram censurados para mulheres. Onde estão?
— Ah, é verdade! Elas foram para o museu. A senhora vai ficar sem a sacanagem.
A turista, no caso, referia-se às imagens estampadas na parede das casas de prostituição, com destaque para as do “il Lupanari”. Elas ilustram os mais diversos atos oferecidos pelas mulheres que ali trabalhavam. Muitos dos achados em Pompeia estão hoje no Museu Nacional de Arqueologia de Nápoles. Ele guarda a maior coleção de arte erótica do mundo, com cerca de 250 obras, revelando parte da vida íntima dos habitantes da cidade.
Mesmo ruborizada pelo tom agressivo do comentário, ela manteve sua postura crítica contra o machismo e o cinismo dessa proibição no sítio arqueológico:
— Eu não acho certa a censura que existia por aqui. Qual é o problema?
O italiano, gastando todo o seu inglês “à carbonara” e o seu vocabulário machista, não hesitou a responder:
— Eu também acho. Vocês, mulheres, aprenderiam muito com aquelas figuras!
— Mais uma vez, apenas a visão de um homem. Até quando pensamentos assim resistirão às cinzas? — Retrucou a senhora, derrubando no chão de Pompeia uma lasca cinza do cinismo humano.
*Texto publicado originalmente em 2012














