Toda viagem é um ritual. Começa pelo planejamento dos dias, lista de restaurantes, curiosidades, lugares que “fulanos” disseram que você TEM que ir. Na sequência, vem a parte das passagens, ingressos, moeda local, passaporte ou somente a CNH, horário de check-in, táxi e tanque cheio. Essa primeira parte do ritual só dá trégua quando a gente se senta na cama do hotel – ou do hostel, da barraca ou de um imóvel alugado – e respira com um aliviado “cheguei!”  

A partir desse momento, uma infinidade de vivências, histórias, pessoas e experiências inundam a nossa vida, o que tornam esse ritual único. A cada passo, um sentimento diferente provoca a nossa mente. Porém, aos poucos, começa a entrar um novo elemento nesse roteiro, o que chamo de “o paradoxo de viagem”. Ele começa a mostrar sinais aos poucos, naquela boa mistura de pensamentos entre “eu tranquilamente moraria aqui” e “que saudade daquele almoço de domingo em família”.  

Às vezes esse paradoxo é tão grande que a gente começa a enxergar a cara de conhecidos nos rostos anônimos pela rua, que passam sem prestar atenção no quase “oi” que recebe de alguém totalmente desconhecido. 

Enfim, sempre chega aquele momento quando o coração aperta mais do que a vontade de ficar. Assim, embora haja muitas despedidas em qualquer partida, começa o ritual de voltar. Desta vez, a mala é recheada com roupa suja, mapas, badulaques que talvez você nunca use na vida e um turbilhão de histórias rodopiando pelos pensamentos, sem qualquer respeito à cronologia dos fatos ou a sentimentos recíprocos. Talvez seja por isso que o poeta José Paulo Paes dizia que cultura é tudo aquilo que a gente se lembra após ter esquecido o que leu. 

Resumindo, você viaja para o mundo e volta com um só seu dentro da cabeça. Contar histórias de viagem por meio de crônicas faz parte disso. Então, espero que um dia você se lembre do sabor, da cor ou do perfume das linhas deste blog, escritas por alguém que viaja em busca de uma vida interessante (agora, fazendo alusão ao genial Contardo Calligaris), mas volta porque não sabe viver sem o almoço de domingo lá de casa.

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