(França) Romance em três palavras de uma utopia socialista

Cantos como a livraria Sheakspeare and Co., em Paris, ainda existem simplesmente porque o ato de virar as páginas de um livro é insubstituível. Pode falar o que for de celulares, kindles, computadores e tablets… Qual é o charme de todas essas telas, vendidas em lojas com muita luz, paredes brancas e um ou outro neon azul para induzir o seu cérebro a consumir tecnologia. Ah, você compra online? Lamento, mas os cliques jamais serão tão mágicos quanto entrar em uma charmosa livraria com cheiro de livros novos e velhos.

A Sheakspeare and Co. foi aberta por um desses apaixonados por livros, mas em uma época em que jamais se imaginaria a existência de um kindle. Em 1951, o norte-americano George Whitman abriu essa livraria com o nome “Le Mistral”. O local só foi se chamar “Shakespeare and Company” em 1964, uma homenagem de Whitman à livraria da ilustre Sylvia Beach, aberta em 1919 na rue Dupuytren e, depois, transferida para a rue de l’Odéon, em 1922.

A Shakespeare and Company de Sylvia Beach era frequentada por escritores importantes como Ezra Pound, Ernest Hemingway e James Joyce. Mas ela foi fechada em 1941, durante a ocupação de Paris pelo exército alemão. A Le Mistral só adotou o seu nome após Sylvia morrer. Aliás, nome descrito por Whitman como “um romance em três palavras”.

Além das obras literárias, a livraria possui uma biblioteca de leitura especializada em literatura inglesa e um hostel. Sim, um albergue com 13 camas! É o que seu criador chamava de “uma utopia socialista que aparece como uma livraria”. Whitman morreu aos 98 anos, em 14 de dezembro de 2011, mas o negócio é tocado por sua família, que não renuncia à missão de “incentivar e abrigar novos escritores”. 

A Sheakspeare and Co. de George Whitman fica na rue de la Bûcherie, 37, no 5th arrondissement. É fácil identificar pelo tanto de gente tentando abrir espaço para entrar e degustar um dos livros na estante. Hoje, além de abrigar e inspirar escritores, a livraria é a meca dos amantes de literatura, jornalistas e, claro, dos fãs do filme “Antes do Pôr do Sol”, de Richard Linklater – jamais deixaria de citar aqui o icônico reencontro de Jesse e Celine.  

*Texto publicado originalmente em 2012

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