(França) Truques da Cidade Luz

Não passava muito das 23h e não deixava de ser Paris. Carreiras de cocaína eram organizadas sobre as coxas de três jovens de calças jeans, sentados em um banco em frente à catedral Notre Dame. Concentrados na particularidade de suas euforias, nenhum percebeu a corrida dos ratos por comida e abrigo. Outros tempos, outras drogas e outros poemas. 

Para mim, mera observadora, a cena nada mais era do que um dos detalhes anônimos da Cidade Luz, concebida ora por poetas, ora por ilusionistas, ora por estudantes de belas artes tentando achar o melhor ângulo. Por isso, eu sempre digo, só quem conhece Paris a pé pode desvendar seus truques. 

Se caminhar, por exemplo, um pouco além do santuário daqueles jovens drogados, você chega a um jardim estrategicamente escondido atrás da Notre Dame, onde é comum ver casais, crianças correndo e idosos passeando entre petúnias e tulipas durante o dia. Para mim, esse é um dos melhores lugares da cidade para passear sozinho, levando a tira colo só pensamentos.

Na saída (ou entrada, se você vem da direção oposta à igreja), é onde fica a famosa Ponte dos Cadeados, sobre o rio Sena. O truque aqui não está nas declarações de amor eternizadas pelo cadeado travado na grade de proteção, mas sim no trabalho dos funcionários da Prefeitura que, de tempos em tempos, recolhem tudo para dar espaço a novos apaixonados.

Já no bairro Montmartre, onde fica a famosa basílica Sacré Coeur, o “truque” está na busca de uma queijaria para encostar os pensamentos e aquecer a barriga.  Com a “gourmandise” já desembrulhada de seu papel de seda, o ritmo da caminhada é ditado pelos dentes. É quando, em poucos passos, você também se torna um truque de Paris.

*Texto publicado originalmente em 2012

Compartilhe isto

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *