(Turquia) A Biblioteca de Celso e as deusas de Éfeso

O céu azul de outono contrastava lindamente com o que sobrou de uma das maiores biblioteca do mundo antigo, a Biblioteca de Celso. Fincada em Éfeso, no centro da Turquia, ela só é mais um exemplo de grandiosidade cultural da segunda maior cidade do Império Romano – atrás somente de Roma em tamanho e importância. Hipnotizada por aquela biblioteca de mármore, que chegou a abrigar 12 mil pergaminhos, observei cada canto a passos lentos. Sentia o silêncio de um templo que conservou por séculos importantes valores de uma próspera sociedade.  

A fachada da biblioteca pública, construída com os próprios bens do governador romano Tibério Júlio Celso Polemeano, tem em sua fachada as estátuas de quatro deusas: Sofia (Sabedoria), Episteme (Conhecimento), Enoia (Inteligência) e Arete (Bravura). Segundo os guias, essas seriam as virtudes de Celso, que, inclusive, foi enterrado em um sarcófago debaixo da biblioteca, na cripta localizada na entrada principal.

Virtudes também de muitos que passavam pelas ruas da cidade, uma população que chegou a 400 mil pessoas. Construída pelos gregos por volta de 1.000 a.C., a cidade tinha como sua melhor característica o respeito ao próximo. Em Éfeso, qualquer religião, nacionalidade, raça, gênero, entre tantas outras “classificações”, eram abraçadas.

Por esse motivo, serviu de refúgio para muitos seguidores de Cristo, perseguidos exaustivamente durante o domínio do Império Romano. Dizem, inclusive, que o Evangelho de São João foi escrito na cidade. Aliás, São João foi quem levou Maria, Mãe de Jesus, a Éfeso.

Pavimentadas com mármore, suas ruas principais levam a grandes edifícios além da biblioteca, como o Templo de Ártemis – considerado uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo – e o Grande Estádio. Embora tantas outras descobertas incríveis devam ser escavadas nas próximas décadas, já que 75% da cidade ainda está sob a terra, somente resgatar a Biblioteca de Celso já bastou como lição para o mundo de hoje. Sofia, Episteme, Enoia e Arete são fortes e resistem.

*Texto publicado originalmente em 2012

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